*Juarez CAMPOS
A propósito do artigo "Quando o vermelho é de vergonha", aqui publicado sobre a manifestação robótica de facção jovem do PC do B, União Socialista, lembra-nos, mais uma vez, a desorientada juventude atual, ávida por heroísmo, mas na falta de uma causa, abraça qualquer uma. "El gobierno?, soy contra!".
Desinformada, mal alimentada no espírito e perdida num mundo consumista, mostra-se confusa e desatualizada.
Ensina-nos os sábios que "outros tempos, outros cuidados", ou seja, não dá para julgar ou mesmo aplicar teorias passadas, e ultrapassadas, aos fatos de hoje. Um novo mundo. Um novo pensar. Uma nova realidade.
Essa juventude perdida, heróis sem causa, apregoa a paz, vestindo-se com emblemas contraditórios estampados com a figura de um dos mais violentos e sanguinários latino-americanos de nossa história contemporânea.
Mas não se trata, aqui, de julgamento. Outros tempos, outros cuidados. Foram os jovens da década de 1960 que transformaram o argentino descendente de um vice-rei do México, Che Guevara, em um ícone que resumia sua rejeição à sociedade capitalista e seu representante maior, os Estados Unidos. Havia um clima de revolta e guerrilhas naquela época, em todo o mundo. Ianque, GO home!, era uníssono.
Hoje, o domínio ianque é ainda maior, mas a juventude desinformada e manipulada por anti-heróis das fichas sujas, aceita o papel de inocente útil, e até mesmo de ser mais útil do que inocente àqueles cuja causa é o interesse pessoal e o números bancários. Aqui e alhures. Mais alhures do que aqui.
"O mito de Che cresceu alimentado pela sociedade em que vivemos, frívola e materialista, que está justamente nos antípodas dos valores que ele representa", explica o escritor argentino Pacho O'Donnell, autor de uma das biografias do personagem, "Che - La vida por un mundo mejor" (ed. Plaza & Janés). "A queda do regime comunista também o privou de sua condição ideológica, e assim restaram dele o idealismo e sua força de personagem épico. Quanto mais crescer a carência de valores, mais crescerá esse mito.".
(...) Para alguns historiadores essa glorificação messiânica é injustificável. Relembram eles que, longe de ser um humanista, Che Guevara aprovou pessoalmente milhares de execuções sumárias pelo tribunal revolucionário de Havana. Como procurador-geral, foi comandante da prisão Fortaleza de San Carlos de La Cabaña, onde, nos primeiros meses da revolução, ocorriam os fuzilamentos. Ele mesmo escreveu: "As execuções são uma necessidade para o Povo de Cuba, e um dever imposto por esse mesmo Povo. "(...) (Wikipédia).
Embora também contestado pela matança humana que liderava, não vamos aqui tratar de Che, mas daquilo que representa. Morre o homem, fica o mito. E seja lá onde estiver, mesmo se no fogo do inferno, certamente estará ainda mais vermelho:
De vergonha de ver tantos utilizando-se de sua imagem, justamente em favor daquilo que o impulsionava e que tanto combateu. Exploradores. Hipócritas. Capitalistas selvagens, opressores, enganadores, corruptos e a tudo aquilo que, para ele, traduz o mal.
Se para alguns Guevara foi um revolucionário que nunca se interessou pela democracia, seus seguidores d'agora utilizam-se da democracia para mostrarem-se que nunca interessaram por uma revolução.
*Juarez Campos é jornalista