Não há fins que justifiquem tais meios!
*Juarez CAMPOS
Ser famoso não é atestado de idoneidade, probidade, honestidade, imparcialidade. Validade. Fernandinho Beira-Mar é famoso. Todos já ouviram falar em Adolfo Hitler e por aí afora. O mesmo pode, e ocorre, com as instituições. O fato de serem conhecidas não traduz e nem abona a sua folha corrida.
Todos com mais de 40 anos, certamente lembram-se do imbróglio Rede Globo-Ibope, nas eleições de 1982, no Rio de Janeiro, quando pesquisas foram manipuladas vergonhosamente e escandalosamente para prejudicar o então candidato da oposição, Leonel Brizola.
Hoje, esse mesmo instituto vem sendo acusado de irregularidades em suas pesquisas, como ocorre em Manaus, capital do Amazonas.
Lá, a liderança do candidato a Prefeito, Amazonino Mendes, PFL, constatada pelo Ibope foi colocada sob suspeita. O Levantamento desse instituto mostrava a liderança do candidato pefelista, com 55% das intenções de voto, seguido de longe por Serafim Corrêa, do PSB, com 14%. O segundo colocado desconfiou da diferença, pediu uma investigação, e três doutores em estatística da Universidade Federal do Amazonas examinaram os dados. Descobriram que a pesquisa entrevistou, proporcionalmente, mais eleitores nos redutos eleitorais de Amazonino Mendes. Esse está entre os casos mais graves de manipulação de pesquisas, porque de dimensão nacional e espalhado por vários Estados e cidades de todo o Brasil.
Em países como os Estados Unidos a Inglaterra, com maior tradição de pesquisas de opinião, as pesquisas eleitorais procuram ouvir o entrevistado em sua casa. Os institutos brasileiros entrevistam as pessoas rua. A pesquisa domiciliar custa três vezes mais. Daí, surge uma questão fundamenta: onde entrevistar as pessoas que responderão à pesquisa? Isso é considerado "segredo de estado" pelos institutos. Teoricamente, a distribuição das entrevistas ocorreria por diferentes áreas da cidade. O percentual de entrevistas em cada área, ainda teoricamente, deveria, mas nem sempre o é, proporcional ao tamanho da população desta área sobre a população total. Por exemplo; se 15% dos montes-clarenses moram na área norte, 15% das entrevistas deveriam acontecer lá.
A pesquisa por quota feita na rua pode gerar uma série de distorções. Uma delas tem a ver com o perfil das pessoas que circulam na rua em determinados horários e lugares. Pessoas com empregos formais têm mais chances de ser encontradas no começo da manhã e no fim do dia. Gente despreparada ou mal informada, idem. Homens aposentados podem ser encontrados nos lugares públicos durante o dia com mais freqüência do que as aposentadas. As donas de casa certamente saiam em horários muito específicos. Certos ofícios permitem que algumas pessoas transitem durante todo o dia na rua. A maioria absoluta, no entanto, está em casa, em afazeres domésticos, nas escolas ou no trabalho. Isso é inquestionável até mesmo para quem não conhece a metodologia. Torna-se, portanto, impossível garantir que distorções, propositais ou não, afetem a pesquisa.
Um exemplo de distorção proposital que utilizou métodos aceitos legalmente ocorreu também no Rio de Janeiro em 1998. Na pesquisa para governador descobriu-se que os entrevistadores estavam ouvindo um número desproporcionalmente alto de pessoas que trabalhavam na rua (ambulantes, camelôs, guardadores de carros). Como esses tinham uma clara predileção pelo candidato Anthony Garotinho, ele era superdimensionado na contagem final da pesquisa.
Outro problema grave da pesquisa por quota feita na rua é quanto aos fatores subjetivos que afetam a escolha dos entrevistados. Estudos mostram que esta escolha não é aleatória. Os entrevistadores muitas vezes deixam de entrevistar pessoas que lhes pareçam hostis, preferindo ouvir pessoas com quem sintam afinidade (partidária, social, de gênero, etária). No agregado, essas decisões dos entrevistadores comprometem seriamente o resultado da pesquisa.
As distorções e manipulações das pesquisas de tão escandalosas tiveram que sofrer intervenções diretas da Justiça, como ocorreu aqui mesmo em Montes Claros. Outro exemplo vem de Maringá, no Paraná, o juiz René Pereira da Costa recebeu tantas denúncias de irregularidades que tomou uma decisão original: mandou que cada equipe de entrevistadores fosse acompanhada por fiscais indicados pela Justiça Eleitoral. Os fiscais ganharam o apelido de 'sombras' – e, é claro, acabaram atrapalhando a discrição com que a entrevista deve ser feita.
Exemplos não faltam e, certamente, cada um tem uma história para contar a respeito. Inclusive aquela de nunca ter sido entrevistado e, muito menos, conhecer alguém que o tenha. Uma espécie assim de cabeça de bacalhau.
Os fins justiçam os meios? A frase de Maquiavel é levada a sério por muitos, cujo único interesse é o poder e significa que qualquer meio, mesmo que ilícito, é válido para alcançar o fim maior: alcançar o poder, mesmo que seja manipulando e enganando as pessoas.
Desconfie, sempre, pois, Não há fins que justifiquem tais meios!
Todos com mais de 40 anos, certamente lembram-se do imbróglio Rede Globo-Ibope, nas eleições de 1982, no Rio de Janeiro, quando pesquisas foram manipuladas vergonhosamente e escandalosamente para prejudicar o então candidato da oposição, Leonel Brizola.
Hoje, esse mesmo instituto vem sendo acusado de irregularidades em suas pesquisas, como ocorre em Manaus, capital do Amazonas.
Lá, a liderança do candidato a Prefeito, Amazonino Mendes, PFL, constatada pelo Ibope foi colocada sob suspeita. O Levantamento desse instituto mostrava a liderança do candidato pefelista, com 55% das intenções de voto, seguido de longe por Serafim Corrêa, do PSB, com 14%. O segundo colocado desconfiou da diferença, pediu uma investigação, e três doutores em estatística da Universidade Federal do Amazonas examinaram os dados. Descobriram que a pesquisa entrevistou, proporcionalmente, mais eleitores nos redutos eleitorais de Amazonino Mendes. Esse está entre os casos mais graves de manipulação de pesquisas, porque de dimensão nacional e espalhado por vários Estados e cidades de todo o Brasil.
Em países como os Estados Unidos a Inglaterra, com maior tradição de pesquisas de opinião, as pesquisas eleitorais procuram ouvir o entrevistado em sua casa. Os institutos brasileiros entrevistam as pessoas rua. A pesquisa domiciliar custa três vezes mais. Daí, surge uma questão fundamenta: onde entrevistar as pessoas que responderão à pesquisa? Isso é considerado "segredo de estado" pelos institutos. Teoricamente, a distribuição das entrevistas ocorreria por diferentes áreas da cidade. O percentual de entrevistas em cada área, ainda teoricamente, deveria, mas nem sempre o é, proporcional ao tamanho da população desta área sobre a população total. Por exemplo; se 15% dos montes-clarenses moram na área norte, 15% das entrevistas deveriam acontecer lá.
A pesquisa por quota feita na rua pode gerar uma série de distorções. Uma delas tem a ver com o perfil das pessoas que circulam na rua em determinados horários e lugares. Pessoas com empregos formais têm mais chances de ser encontradas no começo da manhã e no fim do dia. Gente despreparada ou mal informada, idem. Homens aposentados podem ser encontrados nos lugares públicos durante o dia com mais freqüência do que as aposentadas. As donas de casa certamente saiam em horários muito específicos. Certos ofícios permitem que algumas pessoas transitem durante todo o dia na rua. A maioria absoluta, no entanto, está em casa, em afazeres domésticos, nas escolas ou no trabalho. Isso é inquestionável até mesmo para quem não conhece a metodologia. Torna-se, portanto, impossível garantir que distorções, propositais ou não, afetem a pesquisa.
Um exemplo de distorção proposital que utilizou métodos aceitos legalmente ocorreu também no Rio de Janeiro em 1998. Na pesquisa para governador descobriu-se que os entrevistadores estavam ouvindo um número desproporcionalmente alto de pessoas que trabalhavam na rua (ambulantes, camelôs, guardadores de carros). Como esses tinham uma clara predileção pelo candidato Anthony Garotinho, ele era superdimensionado na contagem final da pesquisa.
Outro problema grave da pesquisa por quota feita na rua é quanto aos fatores subjetivos que afetam a escolha dos entrevistados. Estudos mostram que esta escolha não é aleatória. Os entrevistadores muitas vezes deixam de entrevistar pessoas que lhes pareçam hostis, preferindo ouvir pessoas com quem sintam afinidade (partidária, social, de gênero, etária). No agregado, essas decisões dos entrevistadores comprometem seriamente o resultado da pesquisa.
As distorções e manipulações das pesquisas de tão escandalosas tiveram que sofrer intervenções diretas da Justiça, como ocorreu aqui mesmo em Montes Claros. Outro exemplo vem de Maringá, no Paraná, o juiz René Pereira da Costa recebeu tantas denúncias de irregularidades que tomou uma decisão original: mandou que cada equipe de entrevistadores fosse acompanhada por fiscais indicados pela Justiça Eleitoral. Os fiscais ganharam o apelido de 'sombras' – e, é claro, acabaram atrapalhando a discrição com que a entrevista deve ser feita.
Exemplos não faltam e, certamente, cada um tem uma história para contar a respeito. Inclusive aquela de nunca ter sido entrevistado e, muito menos, conhecer alguém que o tenha. Uma espécie assim de cabeça de bacalhau.
Os fins justiçam os meios? A frase de Maquiavel é levada a sério por muitos, cujo único interesse é o poder e significa que qualquer meio, mesmo que ilícito, é válido para alcançar o fim maior: alcançar o poder, mesmo que seja manipulando e enganando as pessoas.
Desconfie, sempre, pois, Não há fins que justifiquem tais meios!
*Juarez CAMPOS é cientista político